ANOS 90,
A DÉCADA DO PÓS-MODERNO
Parte III - última parte
( Ghost - Rachel Whiteread, 1990 )
Na sequência do que já foi falado até aqui, a tradição do conceito minimalista também foi refrescada pela lufada do ar fresco que se respirava nos anos 90, dando lugar a uma nova tendência. Um dos responsáveis e defensores desta nova tendência, é indubitavelmente, Rachel Whiteread, que conquistou reconhecimento mundial em 1993 com "House", sendo a primeira mulher a vencer o "Turner Prize" nesse mesmo ano. Este apreensivo lado da tendência do novo minimalismo da arte de 90, coloca-se de parte dos análogos anos 60, centrando os seus princípios primariamente nas formas puras e nas cores primárias. Estávamos em 1996, quando Whiteread avançou com o projecto arrojado para a construção de um memorial em Viena, dedicado aos austríacos que foram vítimas do regime nazi. A ideia de Whiteread, - somente aprovada em 2000 - consistia num bloco colossal ( abaixo, à direita ) de granito, sendo as suas faces esculpidas com a forma de milhares de lombadas de livros. Uma óbvia referência aos livros que foram queimados sob as ordens do ditador fascista Adolph Hitler. O
memorial de Whiteread é assim como o fantasma de uma biblioteca ou a sombra duma tradição. À semelhança de todos os seus trabalhos, "House" e o seu "Holocaust Monument", são simples moldes de espaços negativos de objectos ou divisões - normalmente banais -, que depois se transformam em entidades palpáveis. Nas palavras de Whiteread: "elas são a impressão a negativo, - relíquias ou resíduos - daquilo que foram outrora, exibindo nas superfícies, vestígios legíveis da sua significação... são ambas, fantasmas fossilizados e exemplos físicos de um ossificado espaço negativo."
Rachel Whiteread - Embankment
Tal ambiguidade, caracteriza a mentalidade desse fim de século, fazendo referências à história da arte, bem como a temas de ordem política e social. Na generalidade dos casos, as declarações dos artistas podem ser interpretadas em vários níveis, sendo difícil de determinar que posição está a ser tomada. Será que Gregory Green apoia ou denuncia o terrorismo com as suas "malas-bomba"?, Jake & Dinos Chapman criticam ou contribuem para o abuso de menores?... os monstruosos animais híbridos de Thomas Grünfeld condenam a manipulação genética?, e qual será o tipo de relacionamento entre Richard Billingham e a sua família? Estas e outras questões similares levantadas pela arte, foram, são, e sempre serão questões difíceis; senão mesmo: impossíveis de responder. A experiência de presenciar alguns destes trabalhos pela primeira vez, pode ser chocante, porém logo é superada, induzindo o espectador a reconsiderar as existentes ideias e conceitos.
À semelhança de Egon Schiele, Franz von Stuck e Edvard Munch e muitos outros artistas da viragem do séc.XIX, os artistas do final do séc. XX desafiaram os espectadores e quebraram tabus, de forma a incandescer a provocação na melhor acepção da palavra.
Assim é tudo: provocar a sociedade, levando-a a ponderar e reflectir sobre o seu próprio estado de existência.
Miguel Baganha
A DÉCADA DO PÓS-MODERNO
Parte III - última parte
( Ghost - Rachel Whiteread, 1990 )
Na sequência do que já foi falado até aqui, a tradição do conceito minimalista também foi refrescada pela lufada do ar fresco que se respirava nos anos 90, dando lugar a uma nova tendência. Um dos responsáveis e defensores desta nova tendência, é indubitavelmente, Rachel Whiteread, que conquistou reconhecimento mundial em 1993 com "House", sendo a primeira mulher a vencer o "Turner Prize" nesse mesmo ano. Este apreensivo lado da tendência do novo minimalismo da arte de 90, coloca-se de parte dos análogos anos 60, centrando os seus princípios primariamente nas formas puras e nas cores primárias. Estávamos em 1996, quando Whiteread avançou com o projecto arrojado para a construção de um memorial em Viena, dedicado aos austríacos que foram vítimas do regime nazi. A ideia de Whiteread, - somente aprovada em 2000 - consistia num bloco colossal ( abaixo, à direita ) de granito, sendo as suas faces esculpidas com a forma de milhares de lombadas de livros. Uma óbvia referência aos livros que foram queimados sob as ordens do ditador fascista Adolph Hitler. O
memorial de Whiteread é assim como o fantasma de uma biblioteca ou a sombra duma tradição. À semelhança de todos os seus trabalhos, "House" e o seu "Holocaust Monument", são simples moldes de espaços negativos de objectos ou divisões - normalmente banais -, que depois se transformam em entidades palpáveis. Nas palavras de Whiteread: "elas são a impressão a negativo, - relíquias ou resíduos - daquilo que foram outrora, exibindo nas superfícies, vestígios legíveis da sua significação... são ambas, fantasmas fossilizados e exemplos físicos de um ossificado espaço negativo."
Rachel Whiteread - Embankment
Tal ambiguidade, caracteriza a mentalidade desse fim de século, fazendo referências à história da arte, bem como a temas de ordem política e social. Na generalidade dos casos, as declarações dos artistas podem ser interpretadas em vários níveis, sendo difícil de determinar que posição está a ser tomada. Será que Gregory Green apoia ou denuncia o terrorismo com as suas "malas-bomba"?, Jake & Dinos Chapman criticam ou contribuem para o abuso de menores?... os monstruosos animais híbridos de Thomas Grünfeld condenam a manipulação genética?, e qual será o tipo de relacionamento entre Richard Billingham e a sua família? Estas e outras questões similares levantadas pela arte, foram, são, e sempre serão questões difíceis; senão mesmo: impossíveis de responder. A experiência de presenciar alguns destes trabalhos pela primeira vez, pode ser chocante, porém logo é superada, induzindo o espectador a reconsiderar as existentes ideias e conceitos.
À semelhança de Egon Schiele, Franz von Stuck e Edvard Munch e muitos outros artistas da viragem do séc.XIX, os artistas do final do séc. XX desafiaram os espectadores e quebraram tabus, de forma a incandescer a provocação na melhor acepção da palavra.
Assim é tudo: provocar a sociedade, levando-a a ponderar e reflectir sobre o seu próprio estado de existência.
Miguel Baganha
2 comentários:
O artista deve: "provocar a sociedade, levando-a a ponderar e reflectir sobre o seu próprio estado de existência".
Com isto pode levar o espectador a viver emoções agradaveis, chocantes, de repugnância, de paixões, desejos e tristezas.
Para isso a arte existe e ainda bem que o é como forte expressão do homem para se exorcisar, fazer-se ouvir, e ajudar na libertação, abertura da consciência / mente humana perante a vida moral, social, económica e politica.
Não sei se não haveria muito mais por dizer. Não é fácil abordar e ir ao encontro de tantos outros artitas que gritaram da mesma forma.
De qualquer maneira, deixaste aqui um rico trabalho de pesquisa, portas abertas que nos podem ajudar explorar mais e mais...
Foi para mim, um dos teus melhores tarbalhos.
Acredito que virão por ai, grandes surpresas.
Nãoa risco dizer mais, sabes, Miguelindo, agora vou esperar pelo nosso Prof. ;-)
______
Amo-te
sinto-te aqui ao meu lado...
ai... que susto... estava concentrada nisto.
Abraço-te e beijo-te como sempre
teudani
Muito bem, seu Miguel. Só há negro no universo e o minimalismo vem de-
pois do modernismo: provocar a so-
ciedade é desconhecê-la. Bibloteca
ou holocausto, por Whitered, é for-
ma do vazio sem nome, num tempo on-
de tudo se vai tornando irreconhe-
cível. O vazio habitável tende a ser apagado com toneladas de lixo.
Ao menos, em «Embankment», há um
pensar dialéctico há estruturas que
parecem cidades inveridas, o céu
em chão de gelo,anjos como pessoas,
irrisórios, arrulando nas ruas al-
vas.
A liberdade de expressão e a as
«bombas manuais», corrosão de pa-
drões perdidos, amor à violência,
pantomice garatujada e nome do es-
pectáculo fútil, retornos. A arte é feita de ciclos de idas e vindas,
morte anunciada ou ressurreição das
refundações.
Minimalismo, para mim, pode ser
um junco à beira rio, dobrado pela brisa da tarde.
Rocha de Sousa
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