segunda-feira, 26 de janeiro de 2009


ANOS 90,
A DÉCADA DO PÓS MODERNO

Parte II












( Your Manias Become Science-
- Barbara Kruger, 1997 )

Na deriva da liberdade de expressão, a arte vanguardista começava a explodir em manifestações espantosas. E por falar em explodir, é apropriado referir um dos artistas mais " explosivos " da vanguarda de 90. Gregory Green tornou-se conhecido pelas bombas manuais que fabrica. Os seus engenhos, exceptuando o facto de não incluírem explosivos verdadeiros, são completamente funcionais. Green, como a maior parte dos contemporâneos, procura apresentar um novo tipo de realismo: "ao exibir as minhas bombas numa galeria, eu confronto o facto delas poderem explodir: a obra implica uma ameaça para o visitante e para a instituição... o que está em jogo é o fascínio colectivo para a violência... por outras palavras, só estou a tentar expor essa tendência que é tão natural no ser-humano."
Do outro lado da moeda, está o jovem artista cubano Kcho ( Alexis Levya ), cujo centro das suas criações se baseiam em barcos. Kcho, usa materiais invulgares na elaboração destas instalações ou "assemblages", tais como; fragmentos de madeira, objectos diversos e todo o tipo de desperdícios que encontra ao longo da costa cubana.
Restos mortais de inúmeras tentativas fracassadas, que centenas de cubanos fizeram para escapar à tortura e privação que Fidel Castro provocou até há bem pouco tempo.


( Jake e Dino Chapman - Disasters Of War )

Numa temática diferente, encontram-se os irmãos Chapman. Estes dois irmãos, notabilizaram-se por retratarem nas suas esculturas, crianças com mutações sexuais. Jake e Dino, criaram um largo número de obras relacionadas com as famosas series "The Disasters of War" de Goya. A exposição The Chapmans - "Great Deeds Against The Dead" (1994), apresentou três soldados castrados e mutilados amarrados a uma árvore:por um lado, uma homenagem a Goya, por outro, um eventual apelo aos responsáveis pelas mutações das crianças inocentes, que vivem no nosso jardim das "Trágicas Anatomias".
Mutilações, também fazem parte do trabalho de Paul Finnegan. As suas bizarras esculturas , são na realidade transmogrificações de formas humanas, levadas quase ao extremo do sobrenatural. Se as obras dos irmãos Chapman recaem sobre o pesadelo da manipulação genética, então as esculturas e fotografias de Finnegan denunciam o negligente abuso de drogas alucinatórias.
Mutações, também desempenham o papel principal nas criações do artista alemão Thomas Grunfeld. As suas "Misfits", são criaturas híbridas que mais parecem saídas dum louco laboratório zoológico frankensteiniano. As macabras formas e a perfeição das montagens, contudo, não sugerem um taxidermista que enlouqueceu, ao invés, é uma chamada de atenção para a manipulação genética ou melhoramentos evolutivos inconcebíveis e inconsequentes.
O fascínio de Kiki Smith pela biologia, assenta, por outro lado, numa base completamente distinta da de Finnegan. As esculturas, instalações e desenhos desta artista alemã, são mais relacionados com a natureza, reflectindo a sua própria introspectiva na demanda duma identidade a nível socio-biológico. Em último caso, o trabalho de Kiki Smith, é acima de tudo sobre a experiência de sermos humanos, numa época em que a natureza está cada vez mais longe do natural: "eu não penso que o meu trabalho seja particularmente sobre arte. É na verdade, sobre mim... sobre eu estar aqui... aqui nesta vida, aqui nesta pele. Sinto que estou a canibalizar a minha própria experiência, aquilo que me rodeia... para mim, não há diferença entre viver e fazer o meu trabalho - não existe separação... eu penso que escolho o corpo como
tema, não duma maneira consciente, mas porque é uma forma que todos nós partilhamos; é algo com o qual todos têm a sua própria e autêntica experiência."














( Barbara Kruger )














( Jenny Holzer )

Identidade, é também o tema central da obra de Cindy Sherman neste período. Mas aqui, a investigação do seu Ser baseava-se mais no campo político. Tal como Barbara Kruger e Jenny Holzer, Sherman deu uma nova interpretação ao feminismo como sendo um conflito, não directamente entre homem e mulher, mas, mais como entre os poderosos e os não-poderosos. Neste contexto, ela foi ao encontro do mesmo tipo de universalidade que abrange a obra de Kiki Smith, os retratos genéricos de Thomas Ruff, as esculturas em madeira de Stephan Balkenhol, e ainda os retratos de família de Richard Billingham.






























Este último, permite aos espectadores ter uma visão vouyerista, por detrás do cenário quotidianico da sua problemática família, com o seu pai alcoólico, a mãe fumadora compulsiva e o seu perturbado irmão mais novo. A visão que temos, é efectivamente muito desconcertante e cheia de contradições. Em todo o caso, estas fotos estão longe de serem simplesmente um aspecto complementar da sua família, levando o espectador a pensar na sua própria vida doméstica, ao mesmo tempo que considera o tipo de relação que o artista terá com a sua família, ao ponto de lhe permitir tão revelador documentário fotográfico. Estes complexos retratos, são também sintomáticos da nova arte de 90, no qual o julgamento e a moralidade desempenham um papel secundário.

Tal como os "Nouveaux Réalistes" do início dos anos 60, Billingham e muitos outros apresentaram-nos uma realidade em directo, representada em todas as suas várias facetas sem julgamentos ou comentários.

Miguel Baganha

1 comentário:

naturalissima disse...

E a promessa foi cumprida.
Temos aqui uma belissima selecção de artistas que por ti emlhor poderão representar a arte anos 90.
Sente-se nas duas edições uma perfeita conjugação do espaço e tempo, de diferentes conteúdos, expressões e linguagens dos artistas escolhidos por ti.

Prabéns pelo excelente trabalho que estás a realizar.

Vamos esperar pela próxima...
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Belo comentário do tio nosso, no anterior post. ;-)

Amo-te
até já
;-) beijo-te