sexta-feira, 23 de janeiro de 2009


ANOS 90,
A DÉCADA DO PÓS-MODERNO
Parte I












( Ninth November Night-
- Gottfried Helnwein-Berlim, 1996 )

A arte pós-moderna dos anos 90 foi caracterizada por uma mentalidade de fim de século, não muito diferente da que conviveu -especialmente na Europa- com o nascimento do Modernismo durante a transição do séc. XIX para o séc. XX.
Pelas mãos de artistas como o alemão Franz von Stuck e do austríaco Egon Schiele, a arte destes anos conturbados entrou na zona do tabu sexual, encurtando perigosamente a distância que separava o erotismo da pornografia.
O sedutor retrato de Eva e a serpente da autoria de Von Stuck, apropriadamente intitulado "The Sin" (1893) e o revelador auto-retrato de Schiele " Masturbating " (1911), ainda hoje continuam a chocar muitos espectadores.
Durante esta época, muitos outros artistas estavam em voga, como é o caso de Édouard Manet. O ano de 1863 mal tinha começado e Manet já tinha agitado a arte parisiense com as suas (para a época) escandalosas pinturas "Le Dèjeuner sur l' herbe" e "Olympia". Uns anos mais tarde, um jovem chamado Pablo Picasso provocava um franzir de sobrancelha ao público com o seu infame (agora famoso) retrato de um grupo de prostitutas nuas "Les Demoiselles d'Avignon" (1907). E na mesma linha, o "The Yellow Christ" de Paul Gauguin (1889), "Madonna" de Edvard Munch (1895-1902) e um pouco depois, Emil Nolde com "Dance Round the Golden Calf", - uma pintura que satiriza um tema bíblico - causava tumulto junto da Igreja, que se indignou declarando a pintura de Nolde como blasfema.














No decurso dos anos 90, os escândalos tornaram-se prática corrente e no topo da nova revolução sexual da arte contemporânea, estavam os artistas nova iorquinos Jeff Koons e Andres Serrano. Koons, através da escultura e de fotografias pornográficas de grande escala, retratava a si mesmo e à sua mulher, Cicciolina em várias posições e fases de sexo explícito, mantendo a linha tradicional estabelecida por Schiele 80 anos antes. Koons desenvolvia temas indiscutivelmente indecentes, senão mesmo obscenos. A série "Made In Heaven" do início dos anos 90 falhou ao chocar os amantes de arte, da mesma forma que o seu predecessor tinha feito através da sua imagem auto-erótica. E se Koons pode ser comparado com Schiele, seguramente que Andres Serrano pode ser visto em vários aspectos, como um artista renascido de Franz Stuck. Assim como as imagens eróticas de von Stuck se baseavam na mitologia e contos biblicos, o "Piss Christ" e a " History of Sex " de Serrano reflectiam os seus contemporâneos ao mesmo tempo que se referiam aos tradicionais temas clássicos.
Contudo, esta obra polémica com que Serrano encerrou o segundo milénio, foi caracterizada como algo mais do que uma simples provocação sexual. É uma obra multidisciplinar; incidindo sobre a política da preocupação ambiental, explora os aspectos biológicos do corpo humano e também uma
investigação de identidade individual dentro do contexto duma sociedade pós-industrial.
















Temas desta ordem, passaram a ser significativos e comuns à nova Avant-Garde.

Mas uma abordagem sobre a arte deste período estaria incompleta se não fosse mencionado o nome de Damien Hirst, que despontou em 1988 para a nova arte contemporânea britânica, com a lendária exibição "Freeze". A obra de Hirst é estereotipada no que concerne à arte dos anos 90, por levantar questões difíceis e complexas sobre a vida, morte e a existência humana em geral.











Hirst nunca exerceu uma postura moralista, ou apontou directamente o dedo a eventuais ofensas ou corrupções, preferindo explorar os paradoxos da vida numa sociedade pós-moderna, sempre com um sentido de humor e ironia próprios dum novo fim de século.

O seu trabalho mais controverso, um tubarão gigante-branco dentro de um tanque de formol "The Physical Impossibility of Death in the Mind of Someone Living", refere questões filosóficas sobre a vida e morte, enquanto o trabalho em si, joga com o choque e provocação. Esta obra, permite ao espectador desfrutar da beleza do animal e do que o rodeia ( um fluído esverdeado e luminoso ), ao mesmo tempo que o atinge com o hipotético perigo do tubarão, envolvendo todas as fobias humanas que estão inerentes a estes animais assustadores. Os seus trabalhos com animais conservados em tanques de formol, bem como as vitrines de vidro repletas de carne crua e moscas, abordam também, temas existenciais, que reflectem a mortalidade do Homem e o ciclo de vida.

Miguel Baganha

6 comentários:

naturalissima disse...

Temos aqui mais uma edição de grande interesse artístico.

Foi para mim, muito importante vasculhar os teus links para conhecer melhor alguns dos artistas aqui falados.

Dou muito valor a estes artigos que tens vindo a explorar... para a maioria de nós, agradecemos-te tal informação.
Ajuda-nos a dar a conhecer mais ainda a existência da arte e dos artistas do MUNDO!

Parabens pelo belissimo trabalho que nos ofereces.
Tenho pena que estes textos fiquem somente nestes espaços virtuais e não sejam expostos de outra maneira.
Escreves muito bem, sabes falar das obras e dos artistas. Sente-se algo jornalistico na forma como vais relatando a história.

Gostei muito. Espero pela continuação deste tema. Que venham mais deles :-)
__________

Amor meu...
beijo-te
até já
dani

Rocha de Sousa disse...

Uma excelente prestação de Mr.Ba-
ganha, a partir de um tema que tem a maior das actualidades e que envolve muitos equívocos. A pesqui-
sa é bem feito, sintética, contex-
tualizada, e o olhar, que segura a
visibilidade dos quadros ou dos au-
tores, muito seguro. Pragmático,
limpo, efectivamente afeito a uma recorrência de inspiração jornalís-
tica.
O desencanto do moderno, que levou ao pós-moderno, não se apoia apenas
no retorno à força do sexo e à de-
generação da líbido em nome da por-
nografia. Isso é completado por ou-
tras misturas e sonhos híbridos, abarcando a arquitectura e as art- es do espaço e do tempo. Como tudo
está bem organizado, é penha haver
uma espécie de hiato entre a pri-
meira parte e o seguimento em que só nos sobra o pós modernismo por ainda não sabermos nomear o «de- pois» do pós modernismo.
Os meus parabéns
Rocha de Sousa

Unknown disse...

Gostaria de saber se voce se basiou em algum livro para escrever sobre a arte na decada de 90

Unknown disse...

Gostaria de saber se voce se basiou em algum livro para escrever sobre a arte na decada de 90

Miguel Baganha disse...

Ao "Unknown":
baseei-me em vários livros (enciclopédias ou outras fontes de conhecimento, como a internet, por exemplo).

Unknown disse...

Gostei muito do seu site , tenho que fazer um trabalho para a faculdade sobre este tema , porem não acho em nenhum livro especifico e a professora quer que seja retirado de livros . Por isso perguntei de que que livro baseou-se .