quarta-feira, 21 de março de 2012




Listagem das fotografias (e respectivos autores) que estarão expostas na exposição colectiva "FotoÁgua", a inaugurar no dia 21 de Março, às 19:00, na Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos do Museu da Água da
EPAL.

Menção Honrosa - Ria Formosa | Tela Leão
Menção Honrosa - "Naturalidade" - Ribeiro da Labrugeira, Alenquer | Dina Brito
Vencedora - "Habit(u)ação" - Delft (Holanda) | Dina Brito
Menção Honrosa - "Destino" - Lagoa do Fogo, S. Miguel (Açores) | Dina Brito
Menção Honrosa - "Contraste" - Ericeira | Maria Guiomar Dugos
Vencedora - "Bola de Sabão" - Puerta del Sol, Madrid | Raquel Vilela
Vencedora - "Epal, a Catedral da Água" - Mãe d´Água das Amoreiras | Alexandre Baganha
Menção Honrosa - "Regresso à Origem I" - Pav. do Conhecimento, Pque das Nações | Carlos Santos Taborda
Menção Honrosa - "Água e Ar 2" - Coruche | Zeljko Vukosav
Menção Honrosa - "Chovendo no Molhado" - Quinta das Conchas e dos Lilases, Lisboa | Alexandre Baganha
Menção Honrosa - "Refletindo" | Luciane Aria
Vencedora - "O Mundo das Aparências" - Amarante | Maria João Vasconcelos
Vencedora - "Orientação" - Lavadouros de Peniche | Dina Brito
Menção Honrosa - "O Encontro" - Museu Nacional do Trajo/Teatro, Lisboa | Alexandre Baganha
Menção Honrosa - "Água Que Descansa" - Amazónia | Luciane Aria
Menção Honrosa - "Anoitecer" - Praia da Adraga, Sintra | Maria Guiomar Dugos
Vencedora - "Um Beijo Molhado" - Jardim Zoológico de Lisboa | Alexandre Baganha
Menção Honrosa - "Água e Sol - Encontro" - Paisagem Rural Bairro Demetria, Botucatu, São Paulo | Ana Paula Winckler
Menção Honrosa - "Macho e Fêmea" - Casa, Amarante | Maria João Vasconcelos
Vencedora - "Água Abençoada" - Quinta das conchas e dos Lilases, Lisboa | Alexandre Baganha
Menção Honrosa - "Outono Submerso" - Quinta das Conchas e dos Lilases, Lisboa | Alexandre Baganha
Menção Honrosa - "Tranquilidade das Águas" - Zona rural de Botucatu, São Paulo (Brasil) Ana Paula Winckler
Vencedora - "Arquitetura e Água" - Florença (Itália) | Luciane Aria
Menção Honrosa - "Flutuante" - Manaus, Amazonas (Brasil) | Luciane Aria
Menção Honrosa - Fim de Tarde" - Barra do Una, São Paulo (Brasil) | Luciane Aria
Menção Honrosa - "Invicta em Tons Rosa", Porto | Mariana Inácio
Menção Honrosa - "Tarsila do Amaral" | Adelina Guimarães
Menção Honrosa - "Garganta do Diabo" | Adelina Guimarães
Vencedora - "Aquário em Lago" - Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa | Isabel Maria Janeira
Menção Honrosa - "H2O" - Bairro das Fontaínhas, Porto | Alexandre Baganha
Vencedora - "Reflexos" - Patio de los Arrayanes, Alhambra | Diana Constant
Menção Honrosa - "Uma Manhã de Chuva" - Rossio, Lisboa | Ana Maria Proserpio
Menção Honrosa - "Água Mole" - Mãe d´Água das Amoreiras | Bárbara Exposto
Menção Honrosa - "Água, Reflexo de Vidas" - Parque das Nações | Sónia P. Gonçalves
Menção Honrosa - "Espelho Inverso" - Parque das Nações | Sónia P. Gonçalves
Menção Honrosa - "Uma Simples Gota de Água", Algarve | Nuno Soares
Menção Honrosa - "Boiar na Água " - Piscina na Aroeira, Seixal | Raquel Vilela
Vencedora - "Playing With and Nearby the Water" - Nova Iorque (EUA) | Luísa Lima
Menção Honrosa - Rio das Termas de S. Pedro do Sul | Lena Horta Lobo
Menção Honrosa - "Movimento do Rio" - Jardim Constantino Palha,Vila Franca de Xira | Ana Serra
Menção Honrosa - Da Água, Com Amor" - Ilha do Faial (Açores) | Dina Brito
Menção Honrosa - Tirada em Casa | Maria João Vasconcelos
Menção Honrosa - "Check In" - Ilha de S. Miguel (Açores) | Dina Brito
Menção Honrosa - "A Fonte Milagrosa" - Amarante | Maria João Vasconcelos
Vencedora - "Futuro" - Parque das Nações | Tânia Espirito Santo
Menção Honrosa - "Espelho do Céu" - Arraiolos | Tânia Espirito Santo
Menção Honrosa - "Purificação", Mafra | Sérgio de Medeiros
Vencedora - "Jogos de Água" - Albufeira do Gerez | Maria Guiomar Dugos
Menção Honrosa - "O Sol Espelhando-se na Ria Formosa" - Ria Formosa, Algarve | Ricardo Nunes
Menção Honrosa - "Reflexo no Frio dos Arcos" - Arcos de Valdevez | Mariana Inácio
Menção Honrosa - "Plaza de España" - Sevilha | Adelina Guimarães
Menção Honrosa - "À Espreita Sob a Ponte de Tavira" - Tavira | Mariana Inácio
Menção Honrosa - "Gota Rústica" - Serra d´El Rei | Mariana Inácio
Menção Honrosa - "A Panorâmica da Vida" - Mãe d´Água das Amoreiras | Alexandre Baganha
Menção Honrosa - "Um Mar de Água" - Praia do Porto das Carretas, V. N. Sto André | Alexandre Baganha

quarta-feira, 14 de março de 2012

LANÇAMENTO DO LIVRO - "LÍRICA DO DESASSOSSEGO" de ROCHA DE SOUSA

Certos críticos dizem que a linguagem (leia-se método de escrita) é o que torna um livro insuportável ou fascinante. Oscar Wilde disse que «não há livros morais ou imorais: apenas livros bem escritos ou mal escritos». Embora concorde, parcialmente,  com a afirmação do notável dramaturgo irlandês, penso que o nível literário de um livro não deve ser avaliado segundo critérios pessoais que assentem em bases ideológicas religiosas ou políticas (o convencionalismo unilateral e linear sempre teve um efeito castrador). Se o leitor é simplesmente incapaz de compreender ou de concordar com uma determinada linguagem isso não lhe dá o direito de criticar negativamente um livro para outros, cujo nível intelectual ou vivencial se encontre no mesmo comprimento de onda, o mesmo livro pode tratar-se de uma obra literária de extrema qualidade. Para se compreender um livro, para se entender a sua verdadeira linguagem, é preciso, por vezes, procurar ler nas entrelinhas e descobrir certas verdades que estão ocultas.

Rocha de Sousa, pode servir de exemplo para esta introdução. O erudito escritor algarvio já habituou os seus leitores a uma linguagem muito peculiar, subliminar na sua mensagem de fundo e sempre tocando profundamente a condição humana. Todo este contexto sisifiano é alimentado pela sua invulgar capacidade imaginativa, onde, por meio de uma refinada adjectivação, nos leva a um inevitável encontro com nós próprios.

 

«Lírica do Desassossego, procura reinventar uma personagem da própria obra escrita e fílmica do autor, percurso existencial de certa natureza psicilógica que atravessa um imaginário feito de imagens e gentes de vários quotidianos, entre simbologias pictóricas a para de registos onde a tonalidade sensual trava certa batalha por um retrato de mulher, impossível mas conotado com lugares e patrimónios de referência.»

 

O livro é maravilhoso, engraçado, espirituoso, vibrante e pleno de sátira sobre a dúbia razão de certas escolhas feitas na idade da razão. Uma história pungente e actual. Imperdível. Um retrato pintado em tons de ocre, quentes e secos, como a savana de África.

Miguel Baganha 

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Pórtico de «Lírica do Desassossego»:


Ainda se lê, muitas vezes, em prefácios de certas obras, a propósito de um texto, história, aparente correspondência de factos, a seguinte nota: qualquer semelhança entre a realidade e esta obra é pura coincidência.

Eis o que acontece com o livro «Lírica do Desassossego». Para muitos, contudo, nestes e noutros casos, a coincidência, citada de tal forma, não passa de um aviso furtivo, encobrimento de diferentes veracidades. Há quem a entenda, por exemplo, como providência cautelar, antecipação da desculpa ou alteração decisiva da cor de um novelo que se desenrola sem montagem. 

«Lírica do Desassossego», assegura o autor, coincide no título e na crise de um vídeo que (ele próprio) realizou, há largos anos, com alguém que estava de passagem por Lisboa. E acrescenta, por sua vez, que a coincidência dos títulos das duas obras é sobretudo um modo de registar de igual maneira um romance e um filme, apesar da diferença de conteúdos formais. Haveria problema se o filme estivese publicado e pertencesse a outro autor.

Rocha de Sousa tem insistido numa espécie de paradoxo a propósito de alguns dos seus trabalhos, procurando tornar clara a ideia, para a mesma peça, da diferença na semelhança. De facto, no caso do filme, convivemos com uma situação residual da memória a despertar, na personagem, um comportamento paroxístico cuja fase inicial se enovela, em semelhança, com uma espécie de performance alucinatória em que as imagens resgatadas da memória vêm ganhar semelhança na cena em que a mulher voyeurista acaba por cortar, com grande esforço, o cabo que a envolve.

No livro, a personagem é acompanhada desde a adolescência, mostrando-se desenquadrada em muitas situações, pacífica noutras, insinuante ou caprichosa ainda, como se o seu meio não fosse mais do que uma porta de entrada para espaços de devaneio, desde cedo de natureza erótica e sexual, uma ideia transgressiva e inconsequente da pintura. Ela casa cedo e é breve no desempenho. Volta a casar, traindo as normas das festas e delírios. Os filhos quase não existem. O seu cordão umbilical não é transformado em corda mas em auto-sequestros e libertações durante viagens. Após o último casamento, ou união de facto, assistimos ao desmoronamento desta mulher, de África para Portugal, entregue ao zelo contingente de outros homens, presa ao álcool e a uma inteligência que descobria o impossível e nada propunha para realizar. A solidão vem desvendar essa mulher na indigência; e, como sempre, invejando e amando os outros, já sem a mini-saia de outrora, afeita a opas lineares mas nas quais escondia a mutação do corpo e talvez da alma, sempre voltaria a vários vinhos consumíveis. Entidade do mundo contemporâneo, moldada por um colonialismo disfarçado, destinada ao luxo e à lassidão, esta figura, passando por situações abjectas e entregas surdas, pintando coisas absurdas e saturadas na cor, vai perder a sua própria história: o que fazer da comida seca, que verdade ainda lhe poderá caber por semelhança a todos os difusos vínculos genealógicos?

Os poços de fealdade nesta vida, confrontada com as seduções actuais, é uma beleza lírica apesar de todo o desassossego.

Sousa Carneiro