quinta-feira, 13 de novembro de 2008


VER É COMPREENDER














("APARÊNCIAS" - Óleo s/ tela, 2008
Miguel Baganha)

"Ver é Compreender"

«Cada um de nós vê as coisas de modo diferente. E essa diferença vai determinar, na prática, uma variedade significativa de modos de fazer. Uma variedade nas soluções que cada um de nós encontra para transmitir aos outros a experiência do mundo que nos rodeia. A destreza do fazer está relacionada com a qualidade do ver e os objectivos poéticos ou funcionais que se pretendem atingir.»

Excerto do livro:
ARTES PLÁSTICAS IV VOLUME, por ROCHA DE SOUSA

domingo, 9 de novembro de 2008


O MITO DO BELO















Joel Peter Witkin
é um actual e conceituado fotógrafo norte-americano. A sua obra é muito controversa por revelar um conceito de beleza e estética que se situam fora dos padrões comuns. Witkin utiliza corpos flagelados, retalhados e em decomposição, membros dispersos conjugados com frutas e vegetais, cadáveres numa atmosfera surrealista, torsos de mulheres em poses vitorianas e um sem número de aberrações humanas. Este notável artista também referencia clássicos da pintura na sua obra, sendo influenciado por múltiplos pintores. De Bosch a Munch, passando por um Velasquez, Picasso ou Dali ou até mesmo Arcimboldo.


















A sua visão é considerada, brutal, mórbida, exagerada e aberrante, conotada com um belo-terrível. Dela emanam vibrações poderosas, bizarras, tétricas e algo soturnas que nos deixam inquietos. No entanto, é inegável que toda a composição e encenação é absolutamente espantosa e tecnicamente perfeita.

Witkin faz-nos confrontar com uma poética diferente do senso comum e revela-nos a sua própria perspectiva de estética visual, procurando um outro real, um real oculto por detrás da carne putrefacta, das cabeças decapitadas, por detrás do real dito real.












No decurso de uma entrevista e após lhe perguntarem se ele considerava a sua obra horrível, ele respondeu: «horrível?, não! Quando muito, estranha, diferente, talvez uma outra ideia de Belo... o que é o Belo, de resto?».
















Esta resposta leva-nos indubitavelmente a ponderar sobre a verdade deste complexo conceito. Senão, leiam este excerto da abertura da História do Feio dirigida por Umberto Eco:

«Se um visitante vindo do espaço entrasse numa galeria de arte contemporânea e visse rostos femininos pintados por Picasso e ouvisse os visitantes a julga-los "belos", poderia conceber a ideia errada de que, na realidade quotidiana, os homens do nosso tempo achassem belas e desejáveis criaturas femininas com rostos semelhantes aos representados pelo pintor. Todavia, o visitante espacial poderia corrigir a sua opinião se assistisse a um desfile de moda ou a um concurso de Miss Universo, em que veria celebrados outros tipos de beleza. A nós, ao contrário, isto não é possível, porque, quando visitamos épocas remotas, não podemos fazer verificações nem em relação ao belo nem relativamente ao feio, porque dessas épocas só nos restaram testemunhos artísticos. Outra característica comum tanto à história do feio como do belo é a que devemos limitar-nos a registar as vicissitudes destes dois valores na civilização ocidental. Para as civilizações arcaicas e para os povos chamados primitivos, temos achados artísticos, mas não dispomos de textos teóricos que nos digam se aqueles se destinavam a provocar o deleite estético, o terror sagrado ou hilaridade.»
Quanto a mim, o Belo existe nas mais variadas expressões. Nos dias de hoje, ele assume uma postura vertical e arbitrária, de costas voltadas para as regras pre-concebidas e castradoras da liberdade criativa que as religiões e costumes sociais nos impuseram através dos séculos.

















Witkin afirma que a sua visão e sensibilidade se despoletaram durante a sua infância, ao testemunhar um acidente de automóvel onde uma pequena menina foi decapitada.


Miguel Baganha